Tendências pós-pandemia que impactam embalagens e hábitos de consumo


Como todos sabem, quando surge uma catástrofe, os hábitos e as atitudes dos consumidores mudam e a embalagem é a primeira a ser chamada para conter os danos causados e garantir o abastecimento de gêneros de primeira necessidade – inclusive a vacina, que precisa de uma embalagem para ser utilizada, assim como todos os medicamentos e os alimentos que deixam os campos e fazendas e seguem para as casas das pessoas, passando por uma ampla cadeia de distribuição.

Gostamos sempre de lembrar que a embalagem existe para atender às necessidades e aos anseios da sociedade e uma de suas principais funções em alimentos é preservá-los, permitindo que cheguem até os lugares mais distantes em perfeitas condições de consumo. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) estima que cerca de 30% dos alimentos produzidos são perdidos antes de chegar à mesa das pessoas. Isso ocorre na grande maioria das vezes por falta de embalagem ou pelo uso de embalagens inadequadas.

Agora, neste momento em que a economia mundial está sendo seriamente afetada pelos intermináveis lockdowns, começam a surgir nos meios de comunicação duas palavras que merecem nossa atenção: segurança alimentar.

A preocupação com uma eventual falta de alimentos começa a ser comentada em diversos lugares gerando preocupação. Uma dessas manifestações foi a divulgação pelo governo alemão de um comunicado oficial do Departamento Federal de Proteção Social e Auxílio a Catástrofes daquele país, que alertou a população para fazer estoque de alimentos para pelo menos dez dias, recomendando também que as pessoas mantivessem em suas casas lanternas, velas e fósforo, pois a possibilidade de ocorrer falta de energia elétrica não estava descartada.

As redes sociais começaram a postar sobre a falta de alguns alimentos nos sites das redes de supermercados da Europa e as agências especializadas em informações agrícolas começaram a alertar sobre o crescente aumento de preços das commodities agrícolas, citando inclusive a segurança alimentar como um alerta.

Outro ponto que chama a atenção é que começaram a ganhar audiência no YouTube vídeos sobre “sobrevivencialismo” e produção de alimentos em casa.

A segurança alimentar é um dos itens que estão influenciando as tendências de consumo pós-pandemia e isto tem impacto direto na indústria de alimentos.

Devido ao home work, refeições em casa ganharam relevância e as pessoas, não só pelo temor de um eventual desabastecimento ou falta de alguns produtos, mas principalmente pela preparação diária das refeições, passaram a se preocupar com a manutenção de estoques de alimentos.

Neste novo cenário, as tecnologias de conservação dos produtos da carne ganham uma nova dimensão, pois fazer estoque é uma tendência que já está confirmada pelos dados de consumo 2021, onde os alimentos em conserva, embalagens com maior shelf life e aquelas que podem ser estocadas sem refrigeração ganham maior participação no mercado.

Portanto, nossa recomendação é que a indústria da carne dedique especial atenção às tecnologias e embalagens que possam conservar os produtos por um tempo mais longo e aqueles que possam ser mantidos sem refrigeração. Essas premissas podem fazer a indústria da carne ganhar espaço neste novo cenário competitivo.

Falando ainda em mudanças de hábitos de consumo em um mundo pós-pandemia, uma tendência que já se tornou realidade é a preocupação da população ao manusear produtos embalados, tanto alimentos como qualquer outro bem de consumo.

Embora os alimentos e as embalagens não sejam atores-chave na propagação da Covid-19, a preocupação com a pandemia tem levado empresas fornecedoras de embalagens e fabricantes de bens de consumo (donos de marcas), bem como distribuidores, varejistas e empresas prestadoras de serviços de e-commerce, a colocarem mais esforços em projetos de embalagens chamadas “higiênicas”, embora todas as embalagens para alimentos passem por rigorosas avaliações físicas e químicas para terem seus usos em alimentos autorizados pelos órgãos reguladores, no caso do Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Apesar de o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) declarar que há chances muito pequenas de sobrevivência do novo coronavírus em superfícies – sendo, portanto, pouco provável o risco de propagação a partir de produtos alimentícios ou de suas embalagens – os consumidores mesmo assim demonstram bastante preocupação sobre este tema.

Isso tem levado empresas, marcas, instituições de pesquisa e todos os demais elos da cadeia produtiva a buscarem alternativas que respondam à demanda dos consumidores por soluções que fomentem uma maior sensação de segurança higiênica.

Um dos grandes desafios de projetos como esses é não sacrificar funções fundamentais da embalagem como design, proteção ao produto e fatores de sustentabilidade como a reciclabilidade. Ao mesmo tempo, as empresas apostam que inovações tecnológicas desse tipo se tornem fatores decisivos de compra pelos consumidores.

Segundo um relatório da Allied Market Research, o mercado de revestimentos antimicrobianos deve crescer a uma taxa de 13,3% entre 2020 e 2027, atingindo a cifra de US$ 1,3 bilhões. Isso demonstra as tremendas oportunidades que surgem em momentos de tanto caos, dor e tragédia global.

Outro legado importante que o evento da Covid-19 está deixando para o mundo é uma reflexão profunda sobre para onde estamos caminhando em termos de equilíbrio social e ambiental. Pessoas estão se conscientizando que temos uma excelente oportunidade para frear o que está fora de rota e começam a exigir dos governos e empresas ações que construam (ou reconstruam) um futuro mais sustentável, mais justo e menos desigual.

Apesar da inevitável alteração de valores e prioridades para a segurança do produto e o papel que a embalagem desempenha, o lixo não deixará de ser um problema após a crise da Covid-19, muito pelo contrário, torna-se cada vez mais necessária a busca de melhores soluções no gerenciamento de resíduos.

O valor da embalagem no mundo todo está claramente mais reconhecido, mas os problemas anteriores à Covid-19, principalmente os relacionados aos impactos ambientais, não desapareceram. É como se tivessem sido transferidos momentaneamente para o banco de trás na lista de prioridades. Os players dessa importante cadeia da embalagem – fabricantes de matérias-primas, convertedores, donos de marca, distribuidores, varejistas e consumidores – devem continuar trabalhando em harmonia para oferecer ainda mais valor da embalagem para a sociedade e o meio ambiente.

Texto de Álvaro Azanha (Howtopack) e Fabio Mestriner (ESPM).

(Fonte: CarneTec, 22 de julho de 2021)