Pesquisador da UFSC desenvolve protótipo de embalagem para proteger maçãs contra bolor azul


Um pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criou um protótipo de embalagem com óleos essenciais que pode ajudar a controlar a contaminação de maçãs durante armazenagem e comercialização pelo bolor azul. A doença é provocada pelo fungo Penicilliumexpansum, que apodrece a fruta após a colheita. O estado é o maior produtor nacional da fruta.

As perdas de maçãs por apodrecimento durante o transporte e a exposição nos mercados e domicílios dos consumidores podem chegar a 20%. As doenças bolor azul e podridão-olho-de-boi são duas das principais causas. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) atualmente aplica diferentes estratégias para diminuir o problema.

A pesquisa da embalagem, que recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2019, é do engenheiro agrônomo Argus Cezar da Rocha Neto, 33 anos, e foi feita durante o doutorado dele em biotecnologia e biociências pela UFSC. O protótipo demorou três anos para ser desenvolvido.

Atualmente professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), Rocha Neto disse em entrevista que pesquisa maçãs desde que começou a iniciação científica e que o protótipo foi criado considerando investigação anterior feita por ele sobre a necessidade de novas tecnologias associadas à manutenção do fruto após a colheita.

“(Isso) Principalmente por causa da insuficiência de armazenamento a frio ou em atmosfera controlada existentes no estado. Resolvi prototipar algo que envolvesse todos esses aspectos. Ou seja, utilizar óleos essenciais, princípios ativos ‘naturais’, para controlar o bolor azul em frutos de maçã e, assim, expandir o tempo de prateleira delas sem a necessidade de câmaras frias ou de atmosfera controlada”, declarou.

Na atmosfera controlada, são monitoradas em câmaras de armazenamento as concentrações de oxigênio e gás carbônico. Já os óleos essenciais são compostos extraídos das plantas, podendo ser usados de diferentes formas contra diversos tipos de fungos.

A pesquisa começou e foi finalizada na UFSC, mas uma parte do trabalho foi desenvolvida na Michigan State University, nos Estados Unidos. O trabalho indicou que os óleos de palmarosa, árvore-chá e anis-estrelado apresentaram os melhores resultados contra a doença.

“Eles atuam diretamente na membrana plasmática do fungo que provoca o bolor azul, causando a quebra da mesma e, assim, causando o extravasamento do conteúdo intracelular para o meio extracelular. Assim, o fungo acaba morrendo”, explicou o pesquisador.

Questionado se chegou a ser procurado por alguma empresa ou instituição interessada na descoberta, ele disse que houve conversas nesse sentido, “mas não com empresas em Santa Catarina, apesar do alto volume de maçãs”, e frisou que ainda é preciso continuar pesquisando.

“Ao final do projeto, o que fiz foi um protótipo, e não um produto acabado. Nesse sentido, novas investigações precisam ser realizadas para afinar a pesquisa e, desta forma, concluir um produto de fato”, explicou.

Produção em SC e cuidados pós-colheita

Santa Catarina é responsável por 53% do total de maçãs produzidas no Brasil, com 2.992 produtores, e um dos desafios neste ano é aumentar as vendas para o exterior. A colheita da fruta no estado, iniciada no mês de março, deve ser menor que a do ano passado. As principais espécies estaduais são a gala e a fuji.

Um estudo conduzido por Luiz Argenta, Doutor em fisiologia vegetal e pesquisador da EPAGRI, com demais pesquisadores apontou uma média de perda de 20% da produção depois da colheita, ou seja, nos períodos de armazenamento e de prateleira. O levantamento foi feito entre 2007 e 2010, com as espécies fuji e gala.

Ao G1, Argenta disse que a EPAGRI usa diferentes métodos desde a década de 1990 para baixar as perdas sem uso de agroquímicos. Entre eles, estão técnicas para retardar o envelhecimento da maçã, melhorias no armazenamento, colheita no estágio de maturação apropriado e, a longo prazo, pesquisar variedades mais resistentes.

Entretanto, o pesquisador pondera que, apesar do avanço das tecnologias de refrigeração e atmosfera controlada, com concentrações reduzidas de oxigênio e elevado gás carbônico, elas não têm sido suficientes.

“As perdas por podridões continuam altas porque a produção de maçãs aumentou bastante nos últimos 30 anos. Por isso, mais maçãs têm sido armazenadas por períodos mais prolongados. Quanto maior o tempo de armazenagem, maior o risco de perdas da produção por podridões”, explicou.

No Brasil, diferentemente de outros países produtores dessa fruta, não há atualmente nenhum fungicida registrado e usado comercialmente, informou Argenta. E que a EPAGRI vê com bons olhos iniciativas que tenham como objetivo diminuir os prejuízos sem o uso de fungicidas. “Isso por dois motivos: porque as perdas são grandes e porque buscamos técnicas seguras do ponto de vista alimentar, sem impactos na saúde”, explicou.

(Fonte: G1 / A Semana, 12 de março de 2020)