Mercado de embalagens pode enfrentar mais riscos em 2024


Apesar da perspectiva ligeiramente mais positiva para 2024 ante o ano anterior, segundo Rafael Barišauskas, economista na Fastmarkets para a América Latina, a indústria de embalagens de papel deve encontrar um cenário ainda desafiador neste ano, mesmo com algumas tendências benéficas no consumo.

Na contramão de 2023, a expectativa é que o nível de endividamento das famílias deverá estabilizar e começar a cair consideravelmente em 2024 após tantas rodadas de programas de renegociação de dívida. “Entendemos que isso deve aliviar um pouco o orçamento doméstico, mas que leva um tempo até que, de fato, esse efeito seja verificável no orçamento das famílias. Por isso, acreditamos que o segundo semestre de 2024 vai ser relativamente bem positivo, comparado a 2023”, avaliou o economista em entrevista exclusiva ao Portal Packaging. Além disso, ressalta Rafael, o mercado mexicano também representa uma oportunidade para a América Latina, devido aos estímulos que tem recebido. Conforme Barišauskas, com investimentos em novos polos industriais para a produção de bens de consumo e exportação até os Estados Unidos, seguindo as tendências de nearshoring, o México representa uma oportunidade para exportação de embalagens do mercado brasileiro, embora não seja o principal consumidor brasileiro.

Atualmente, segundo o economista, a Argentina é o principal mercado brasileiro de exportação da indústria de packaging, com um cenário de incertezas diante da eleição do novo presidente, Javier Milei. “Existe muita incerteza em relação ao comportamento do mercado argentino, o que deve ligar um sinal de alerta para os exportadores brasileiros. A Argentina recebe, de modo geral, quase metade das exportações brasileiras de papel para embalagem, o que é um volume considerável”, explicou.

No entanto, Rafael afirma que “apesar dessa incerteza e desses riscos, 2024 não deve ser um ano ruim para a Argentina, uma vez que todas as principais mudanças político-econômicas propostas pelo presidente recém-eleito não devem ser implementadas tão cedo por questões políticas e legais de aprovação do próprio país”.

Outro fator que deve impactar o mercado é o clima. Países latino-americanos como Chile, Colômbia, Bolívia e Equador também são importantes compradores do papel brasileiro para embalagem e existe muita incerteza quanto à demanda desses países por conta do El Niño.

“O El Niño vem bagunçando um pouco o clima na América Latina desde cerca de julho de 2023, mas as previsões são de que ele deve continuar afetando os padrões climáticos até a próxima safra. Como consequência, temos visto muitos problemas de perda de safra e redução de produção agrícola na Colômbia, no Chile, no Peru e no Equador. E, de certo modo, isso deve reduzir o poder de compra desses mercados e, por consequência, as exportações brasileiras de papel para embalagem”, indicou Barišauskas.

“Se eu pudesse sumarizar, eu diria que existem mais riscos que podem puxar para baixo a demanda em 2024 do que possíveis fatores otimistas para levar a demanda além do que a gente já espera que ela vá ser positiva. Mas, de forma geral, 2024 deve ser melhor do que 2023 em termos de volume”, concluiu o economista.

(Fonte: Portal Packaging, 09 de janeiro de 2024)