Consumo feminino: descubra a importância das embalagens nesse cenário


Foi-se o tempo em que as marcas tinham a opção de ignorar os hábitos, as necessidades e as exigências das mulheres. Afinal, se há alguns anos era o público masculino que ditava as regras, agora o cenário é outro. O consumo feminino não só representa o maior mercado aqui no Brasil, como também traz à tona importantes questões como equidade, machismo e representatividade. Nesse novo contexto, os negócios que não se adaptarem poderão ficar para trás — e isso também vale para o universo das embalagens.

Para se ter uma ideia de quanto o espaço das mulheres vem sendo ressignificado, atualmente 45% dos lares brasileiros são chefiados por elas, segundo o IBGE. Além disso, de acordo com o estudo Estilos de Vida, feito pela empresa global de consultoria Nielsen, 96% dos responsáveis pelas compras nas casas brasileiras são mulheres

Novos tempos exigem novas perspectivas

Com tantas questões ligadas ao consumo feminino sob os holofotes, é cada vez mais urgente que as marcas reavaliem atitudes e posicionamentos que precisam ficar no passado. Caminhos fáceis e estereotipados já não são mais possibilidades e podem significar sérios riscos à imagem e saúde financeira de qualquer organização.

Afinal, de uma forma que nunca antes tinha acontecido, hoje os consumidores não só têm o poder de interferir no sucesso dos negócios, como estão bem conscientes dessa força. Segundo o estudo Global Consumer Pulse, da Accenture Strategy, sete em cada dez pessoas aqui no Brasil têm decisões de compra influenciadas por posicionamentos e valores assumidos pelos negócios. E não é por acaso que a cada dez consumidores, seis deles já pararam de comprar uma marca que foi contra seus princípios. Para completar, 79% acreditam que boicotes podem ser decisivos para as empresas mudarem de atitudes.

Especificamente para o público feminino, esses valores se mostram ainda mais importantes. Como a Nielsen apontou, a maioria das mulheres não aceita consumir de marcas que demonstram preconceito e intolerância. Por isso, para muito além de reavaliar posicionamentos, os negócios precisam voltar suas atenções para produtos e serviços que possibilitem diálogos mais efetivos, inteligentes e atuais. 

Os possíveis caminhos para a embalagem no cenário de consumo feminino

É inevitável perceber que, mesmo diante de tantas mudanças acontecendo no consumo, as embalagens voltadas para um único gênero podem ajudar pessoas a identificar com mais facilidade um produto entre tantos outros nas prateleiras. Além disso, elas podem servir como ferramentas para as marcas atraírem segmentos de audiência específicos. E isso pode, até certo ponto, funcionar para que as organizações vendam mais. Contudo, considerar outras possibilidades é uma tarefa fundamental para os negócios que querem se destacar e criar conexões e diálogos autênticos com as mulheres. 

Designers, profissionais de comunicação e marketing e a indústria de embalagens precisam assumir o desafio de pensar longe de clichês, acompanhando a nova posição que os consumidores vêm assumindo em relação aos estereótipos de gênero. Afinal, cada vez mais o público está em busca de experiências, querendo receber tratamentos personalizados das empresas, e não ser separado em dois grandes blocos convenientes — e até ultrapassados — para os negócios.

Assim, fica a grande questão: como embalagens conversam com mulheres de forma inteligente e atual? Talvez uma possível resposta seja diminuir o foco na criação de algo específico para mulheres e começar a pensar mais naquilo que pode ser usado por todas as pessoas. Um design eficiente é aquele que traduz a personalidade de cada marca e os benefícios de um produto — e isso não significa que ele precisa se render às divisões óbvias de gênero. 

“Acho que agora olhamos e ouvimos o lugar que as mulheres ocupam. As coisas mudaram e sinto que estamos, mais do que nunca, em um estado de transformação contínua. Limites estão perdendo nitidez ou desaparecendo. Não gostamos de ser rotuladas ou organizadas em categorias convenientes, então talvez devêssemos pensar menos em um design para mulheres e pensar mais em um design para pessoas.”

Angela Spindler, fundadora e diretora criativa do estúdio de design Depot, em entrevista ao Dieline

Longe dos estereótipos

Você já deve ter notado que, nos últimos anos, algumas marcas vêm adotando essa nova mentalidade que prioriza embalagens com designs mais neutros. Afinal, elas dão aos consumidores a oportunidade de escolher algo realmente baseado em sua necessidade, e não em seu gênero.

Ícone do mundo da moda, a Louis Vuitton é uma das empresas que acompanha de perto esse movimento. Recentemente, a grife francesa lançou sua primeira linha de perfumes unissex. E as embalagens, claro, se destacaram por fazer sentido tanto para o consumo feminino quanto para o masculino — a começar pelas cores dos frascos e cartuchos, que nada têm a ver com as convencionadas “cores de meninas” ou “cores de meninos”. 

Os fracos e as caixas fazem referência a elementos da natureza — o sol, os cactos e as ondas — que dão nome às fragrâncias e são universais. Além disso, a forma escolhida para as embalagens é neutra e não segmenta o público.

Um diálogo a favor da pluralidade

No início do ano, a eQlibri lançou uma edição comemorativa de suas embalagens e apresentou ao mercado uma forma inteligente e atual de usá-las como ferramenta para criar conexões com o público feminino. 

Comemorando o Dia Internacional das Mulheres, a marca assumiu o propósito de apoiar a pluralidade feminina. No caso, as novas embalagens trouxeram ilustrações que celebram as individualidades e a diversidade dos corpos, incentivando as mulheres a se reconhecerem e gostarem do jeito que são.

Além disso, a eQlibri colocou por cima dos rótulos um adesivo com a “Tabela pela Mudança”. O objetivo foi ressignificar a tabela nutricional, alertando para a diferença salarial entre homens e mulheres, em diferentes áreas profissionais. 

Valorizando a força feminina

No setor de bebidas, a 3 Corações foi uma das marcas que reconheceu a importância de criar soluções que dialoguem com o novo cenário do consumo feminino. Também em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, a empresa lançou a campanha “Junte-se a elas”, que levou ao mercado microlotes de café produzidos exclusivamente por mulheres cafeicultoras.

Todo o lucro com as vendas foi destinado para as produtoras e cada embalagem tem uma tag contando a história da mulher que produziu o café. No caso das cápsulas, a história é impressa na lateral do cartucho de papel cartão.