Do balde ao robô: a revolução do home care no Brasil
22/09/2025
O cuidado com a casa nunca foi tão estratégico. Se antes bastava falar de eficiência e preço, hoje a limpeza se tornou um campo de inovação, propósito e experiência.

Da “misturinha caseira” com vinagre ao robô programado por aplicativo, estamos vivendo uma revolução do cotidiano.
O Brasil não é coadjuvante nesse movimento. De acordo com a Euromonitor, somos o 4º maior mercado global de produtos de limpeza, movimentando cerca de US$ 38 bilhões em 2024. Esse número não é apenas escala, é motor de transformação. Quase metade dos brasileiros faz faxina semanalmente (Euromonitor, Voice of the Consumer Survey), e esse hábito recorrente é o verdadeiro combustível que sustenta a força e a resiliência do setor.
Mas não basta olhar para o tamanho. O mercado vive uma polarização clara: de um lado, os itens essenciais e acessíveis, que resistem mesmo em tempos de pressão econômica. De outro, cresce a procura por soluções premium e sofisticadas, que associam fragrância, bem-estar e lifestyle. O mesmo consumidor que busca preço no atacarejo paga mais por um amaciante aspiracional ou por um difusor elétrico que transforma o ar da sala em experiência sensorial. Essa dualidade é uma das marcas do consumo brasileiro: racionalidade no básico, aspiração no premium.
Essa transição redefine valor. O diferencial não está no que o produto faz, mas em como faz o consumidor se sentir. É nesse ponto que surgem movimentos estratégicos, como a collab entre Ypê e L’Occitane, que reposiciona o amaciante como extensão do autocuidado; ou o case da Veja Bicarbonato, que traduziu o “feito em casa” em inovação de prateleira. Casos que mostram como o branding precisa migrar do discurso histórico para o valor percebido em experiência.
A sustentabilidade deixou de ser discurso e virou prática. Refis concentrados, embalagens recicláveis e biossurfactantes já estão nas gôndolas. Mas o consumidor brasileiro é pragmático, só adere quando enxerga benefício concreto no dia a dia em praticidade, custo e desempenho. Marcas que não traduzem o verde em benefício tangível correm o risco de transformar propósito em greenwashing.
Outro vetor de disrupção vem da digitalização. O e-commerce ainda responde por apenas 3% das vendas de home care no Brasil, de acordo com a Euromonitor International, mas é onde nascem as narrativas, os testes e a fidelização. Do delivery emergencial de básicos no iFood ao branding aspiracional no TikTok, o digital torna-se canal estratégico de diferenciação e engajamento. Esperar o on-line virar volume para só então agir é perder a chance de liderar.
E há a fronteira que talvez seja a mais transformadora: a casa inteligente. Globalmente, esse mercado deve chegar a US$ 371 bilhões até 2029, com crescimento médio de 25% ao ano (Mordor Intelligence, 2024). No Brasil, o avanço é ainda mais acelerado, próximo de 30% ao ano, impulsionado por maior conectividade e popularização dos dispositivos. Hoje, 16% dos lares brasileiros já contam com algum dispositivo inteligente, e a curva de crescimento é acelerada. O cuidado doméstico deixa de ser manual para se tornar programado, conectado e sustentável.
Essa revolução traz uma provocação clara: o home care no Brasil não é apenas rotina. É tecnologia, branding e lifestyle. Quem continuar pensando apenas em preço e gôndola irá sobreviver. Agora quem entender que a casa se tornou extensão de autocuidado e até de status, não irá competir apenas na gôndola, irá disputar espaço na vida, na mente e na tela do consumidor.
(Fonte: Household Innovation, 19 de setembro de 2025)