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Setor de papéis para embalagem projeta retomada no segundo semestre


Após retração no início do ano, indústria espera crescimento apoiado no consumo doméstico, exportações e sazonalidade de datas como Black Friday e Natal

Após um primeiro semestre marcado por desafios, como tarifas impostas pelos Estados Unidos, casos de gripe aviária e custos mais elevados, o setor de embalagens em papel apostou em uma recuperação no restante do ano. Tradicionalmente, o segundo semestre concentra maior demanda por conta de datas como Black Friday, Natal e Ano Novo.

De acordo com a consultoria Fastmarkets, a expectativa é de que as expedições de papelão ondulado cresçam 2,6% entre julho e dezembro, apoiadas tanto pelo consumo doméstico quanto pelo comércio exterior. A projeção ocorre apesar da forte base de comparação com 2024, que registrou desempenho recorde para o setor.

EXPECTATIVAS POSITIVAS

Douglas Dalmasi, diretor de Embalagens da Klabin, avaliou que os meses de setembro e outubro têm respondido às previsões do mercado. “A temperatura está boa, em linha com os números que estão saindo”, afirmou. Segundo ele, os impactos de fatores externos já foram absorvidos e a perspectiva “é muito boa” para os próximos meses.

A Fastmarkets projetou que esse movimento garanta um crescimento anual de aproximadamente 1% nas expedições de chapas, caixas e acessórios de papelão. Embora modesto, o índice vem após o volume histórico de 4,24 milhões de toneladas registrado em 2024, o maior da série.

Consumo e cenário econômico

Segundo Rafael Barisauskas, economista da Fastmarkets e professor da Fecap, o ambiente macroeconômico contribui para o avanço do setor. “A renda disponível é maior este ano, temos inflação controlada e desemprego baixo, todos elementos positivos para o consumo. Além disso, espera-se uma boa performance para o setor agroexportador”, destacou. Esses fatores impactam diretamente a demanda por embalagens ligadas a bens de consumo não duráveis, como alimentos e bebidas.

Apesar de a produção industrial ter recuado 0,2% em julho frente a junho, a Pesquisa Industrial Mensal (PMI) identificou crescimento em segmentos com peso no consumo de papelão, como farmacêutico, alimentício e químico. Ainda assim, Barisauskas lembrou que há riscos a serem monitorados. “Existem fatores de riscos, como endividamento elevado, juros altos e mudanças de hábitos de consumo, incluindo as apostas on-line, mas o cenário geral é positivo”, avaliou.

Primeiro semestre desafiador

De janeiro a junho, período normalmente mais fraco para o setor, as expedições de papelão caíram 0,9%. Para a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), a retração não surpreendeu diante do contexto. “A combinação entre incertezas no panorama internacional e juros elevados no Brasil fez com que o 1º semestre, que normalmente não é o melhor, apresentasse queda em comparação com a base alta do ano passado, o que está dentro do razoável”, disse o embaixador José Carlos da Fonseca Júnior, presidente-executivo da entidade.

Em junho, o setor havia recuado 1,6% nas expedições, mas em julho houve recuperação de 1,5% frente ao mesmo mês do ano anterior, somando 378,9 mil toneladas, recorde para o período. Barisauskas observou que parte dessa alta decorreu do represamento de pedidos provocado pelas tarifas dos EUA e pela gripe aviária, atendidos em julho.

Impactos do tarifaço e da gripe aviária

A identificação de gripe aviária no Brasil, em maio, levou à suspensão temporária de exportações de frango para mercados relevantes como China e União Europeia. Já as tarifas impostas pelos Estados Unidos, intensificadas em agosto, afetaram o envio de proteína animal e, consequentemente, a demanda por caixas de papelão utilizadas nessas exportações.

Para Fonseca Júnior, parte do avanço observado no segundo semestre reflete a retomada gradual dos pedidos. “Pode ter um pouco de represamento, mas também há a retomada dos níveis usuais de preparação para o 2º semestre”, afirmou. No cenário mais otimista, a Empapel estimou alta de 3,2% no terceiro trimestre e de 2% no quarto, resultando em crescimento de 1% em 2025. Dados preliminares de agosto, porém, indicaram retração de 1,84% nas expedições.

Custos e matéria-prima

Outro ponto de atenção tem sido o preço das aparas de papelão, insumo essencial na produção. Segundo a consultoria Anguti, o valor do tipo II subiu 26,7% entre janeiro e junho, chegando a R$ 1.292,45. Após esse pico, os preços iniciaram correção e, em agosto, estavam cotados em R$ 1.209,96.

“O primeiro semestre foi importante para repassar preço e recuperar margens em função desse aumento”, explicou Sérgio Ribas, diretor-geral da Irani Papel e Embalagens. Para ele, a retração de volumes tende a ser compensada pela sazonalidade do segundo semestre, em meio à estabilização e possível queda dos custos.

Ajustes na produção

Diante desse cenário, a Klabin ajustou sua estratégia, reduzindo a produção de reciclados e priorizando a fibra virgem. A empresa encerrou a unidade de Franco da Rocha (SP) no ano passado e, em julho, paralisou a máquina de papel reciclado em Paulínia (SP). “Se houver um superaquecimento na demanda, voltaremos a olhar para nossa organização de máquina, incluindo Paulínia”, disse Dalmasi.

A companhia também observou demanda adicional de kraftliner vinda de países asiáticos. “A China compra bastante dos EUA. Eles começaram a diversificar para não ficar somente na mão de um fornecedor, e a gente tem aparecido como uma boa alternativa”, comentou Dalmasi. Segundo ele, esse movimento pode até mesmo justificar a reativação das unidades paralisadas.

(Fonte: Portal Packaging, 25 de setembro de 2025)

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